Desafios da educação atual: Entre o capitalismo e a Formação do Indivíduo.

25 de março de 2008

Não é novidade para ninguém que a contemporaneidade tardia vive sob o império do capitalismo. Também não é novo o grande problema do sucateamento em todo o mundo, especialmente no mundo ocidental. Determinadas habilidades ligadas ao senso crítico vem sendo deixadas de lado, enquanto as de natureza técnico-científica são elevadas à posição de dominantes.

Os professores que formam os profissionais de amanhã se concentram em suas especialidades, deixando de um lado a suposição de um plano maior. Em verdade, por mais que esteja registrado em pedaços de papel que há um fim de cidadania (palavra que é tomada em senso comum pela maioria), ou de formação do indivíduo na escola, elas se destinam a dar ao indivíduo um arcabouço de saber desestruturado. Esses conhecimentos serão, mais tarde, base de habilidades especializadas ao futuro profissional do indivíduo.

Mas qual é o objetivo dessa profissão? É a sobrevivência. É não apenas a subsistência, mas a existência, de fato, em um mundo onde impera a lei do mais forte em grande parte das relações econômicas. E como os líderes dessa guerra necessitam de seus soldados, que as pessoas sirvam para alimentar os altos-fornos da indústria. E que a educação que os pais pagam (com impostos ou contratualmente) é o que deve prepará-los para agir como autômatos. Não há maior um maior poder discricionário por parte do indivíduo, se ele deseja servir aos objetivos da economia: ele é condicionado a isso desde a mais tenra idade.

Só que os “generais” dessa guerra são astutos. Se a pessoa tem noção de que é nada mais do que um objeto, algumas tendem a se revoltar e insuflar os outros. Claro que haverá os que não ouçam, mas sempre haverá os que concordem a ajam, valendo-se do formalismo dos sistemas legais, que, em regra, garantem a liberdade. Então, a resposta dos líderes é, além de agir no sentido de alienar (pão e circo), agir contra a própria educação. Em regra, ela ainda tem um valor de formação crítica, mas, na essência, isso se perdeu.

Questionam-se provas dessa perda. Uma delas é o ensino médio, quando todos os esforços são direcionados não, ao menos, a uma boa compreensão das matérias ensinadas, mas a passar no vestibular e ingressar em uma instituição de terceiro grau. Sequer nisso há correição: é freqüente que os alunos, desdenhando do esforço, usem de subterfúgios (como resumos e pescas) nas avaliações, destinadas a mostrar ao professor e ao aluno até que ponto o conhecimento dele corresponde à necessidade.

Além desse particular, há outros. Há uma tendência a se negligenciar matérias destinadas a despertar algo do senso crítico (como história, filosofia, geografia ou língua portuguesa) mesmo onde elas são mais necessárias, como Direito ou Administração. Novamente, interpõe-se aqui uma divisão. Os interessados são suficientemente astutos para perceber que há os técnicos jurídicos e administrativos, e os que serão, efetivamente, Juristas e Administradores. Os que se preocupam com o fundamento são rapidamente encaixados em funções onde possam exercer seus talentos de forma segura: na carreira de magistério, onde ele é obrigado pelos alunos (a esmagadora deles pouco preocupado com lições fora do que enxergam como útil de per si, do que exige reflexão) a se limitar, ou na área de pesquisa, onde ele se restringe. Os que militam e entram, por exemplo, na política - no mais das vezes corrupta e desinteressada (caso contrário não julgaria a educação de forma tão inconseqüente) quando não formada por aqueles a quem interessa a educação deficiente – tendem a não fazer nada, por falta de oportunidades ou de efetiva força. São esmagados, enquanto minoria.

Essa situação dicotômica não pode ser mantida. Ou poderia ser mantida ad infinitum, se a dinâmica do capitalismo fosse mantida intocada. Entretanto, o advento de “crises econômicas” não deixa de se refletir numa crise de valores e, porque não, numa possibilidade da massa refletir. É nesse processo, em que o pão e o circo já não bastam para mostrar a exploração que poderá ocorrer uma mudança.

Fora disso, as chances são muito pequenas.

(Daniel Vital)

1 Reações:

Bruno Bello disse...

O pior é saber que a reação a esse sistema está envolvida nos tentáculos cruéis e viciados dos mais fortes...