Surdo.

1 de julho de 2010

É porque gosto de ouvir o impronunciável. Tudo aquilo que as pessoas querem dizer, mas por algum motivo acabam censurando. Deve ser pela minha falta de censura, e o costume acaba se tornando a minha normalidade mal vista por alguns. Então se é para ser dito, que seja, que desça garganta abaixo daqueles surdos por opção e  dilacere os olhares dos incrédulos falsos subjetivistas que sempre soltam um sisudo "talvez" para fugir das escolhas.
Não quero que o impronunciável seja uma obrigação. Assim como o pai não é obrigado a ensinar ao filho o porquê de ser errado meter o dedo no interruptor da tomada, basta dizer que não pode e sua autoridade de pai se mostrará suficiente. O filho obedecerá naquele instante em que os olhos do pai o mantêm inerte. Mas para o filho, que não sabe ainda a importância da explicação impronunciada pelo pai, a única coisa válida é a curiosidade de saber porque o pai tinha advertido-o com tanta rispidez. Não custava ao pai dar explicações ao filho, foi uma escolha sua, uma censura vinda da sua própria infância quando o seu pai, avô desta criança, fizera o mesmo com ele. A dificuldade de romper essa linha de raciocínio não deve se tornar uma obrigação, e sim uma evolução natural que vestirá o nosso corpo com perfeição.
Gosto do impronunciável porque me faz pensar. Me faz questionar o porque do por que. E se nada disso faz sentido, aceite, sem questionar, o fato de que gostamos de ouvir frases prontas e que não estamos preparados para ouvir novas idéias. A surdez se faz presente apenas para filtrar o que não nos é agradável aos ouvidos. Uma surdez psicológica que tem como inimigo, as críticas mais ácidas das nossas escolhas. É disso que se trata o impronunciável, palavras ácidas demais para serem digeridas com leveza e tranquilidade. Palavras tão indigestas que até para serem pronunciadas, dói o âmago como se estivéssemos dando uma rosa para uma pessoa querida, segurando a dor de ter os espinhos na própria mão.
Aqueles que permanecem surdos por muito tempo, acabam esquecendo como falar de verdade sobre a verdade. Acabam perdendo o tato das palavras e deixam ser manipulados facilmente. Para que haja o grito ele tem de ser ouvido.

O Lapso

2 Reações:

Rafaela N. A. Monteiro Franco disse...

Muito Bom! clap clap
Gostei do seu grito, apesar de ter me identificado muito com a parte

" Então se é para ser dito, que seja, que desça garganta abaixo daqueles surdos por opção e dilacere os olhares dos incrédulos falsos subjetivistas que sempre soltam um sisudo "talvez" para fugir das escolhas."

E quando o impronunciável se torna pronumciável, o que antes se fazia necessário de alguma sensibilidade para enterder tenha agora que ser "mastigado"...

Concordo que algumas coisa devem ser ditas, doa a quem doer...

Bruno Bello disse...

Rafa,

Quando o impronunciável torna-se pronunciável, o ouvinte já está preparado para o que será dito. Não necessita de adornos. Algumas pessoas tem a necessidade de se afirmar para melhorar um ego carente, então floreiam e perdem a noção.