Chapter 5 - Ídolo de Barro

24 de outubro de 2010


Ídolo de Barro



Todo ídolo tem seu pedestal, símbolo da devoção e admiração de seu amante. Sua imagem pode ser vista de longe e de todos os lados. Portanto é onipresente. Seu sorriso conquista, sua voz parece mais que um poema. Para suas palavras o ouvido está sempre atento e disposto a escutar mais uma palavra. Seus olhos parecem profundos como um lago. Seu ser é perfeito, e as imperfeições onde estão? Mesmo que existam desavenças o seu brilho cega. Mas o tempo... como você chega! Porém existem ressalvas, para alguns a energia e tamanha que o brilho permanece lá, ecos dos tempos de gloria. Para muitos outros o tempo chega.

O tempo tira a beleza, o tempo tira o charme, as qualidades, o brilho do ouro. Transforma metal nobre em bronze, em tons cobres. Como a prata o ídolo escurece ao toque do iodo, ficando escuro como a noite. Maravilhoso seria se o problema fosse só ofuscar o brilho. A desilusão é terrível, a frustração de uma expectativa. A sensação de dor e decepção é capaz de fazer o que nem os alquimistas conseguiram: transformar o ouro em barro. Infelizmente, o barro não fornece a mesma resistência ao ídolo. O menor impacto, o menor destrato e o barro poderá se quebrar. O ídolo de Barro reflete a fragilidade do seu interior. Em cada rachadura uma fraqueza, uma dor, não apenas do ídolo, mas de seu observador. Na tentativa de conter uma rachadura, uma falha, surgem outras duas, numa intensa dor de desconstrução. Ele se olha em busca de uma parte ainda não tocada pelo tempo. Ele olha, procura, busca e não encontra mais que lembranças.
A onde estará...onde? Talvez seu encanto seja fruto de sua essência e não de sua composição. Talvez aquele corpo nunca tivesse sido de ouro, prata, alumínio ou cobre, talvez a beleza estivesse dentro dos olhos que tanto o admiravam. A convicção desse olhar foi capaz de contagiar o próprio ídolo. Tenha medo dos ídolos, tenha medo de ser um ídolo, Tenha medo de ser um ídolo de barro.

Ricardo Monteiro da Rocha Franco Filho

Data: Esse texto foi escrito em Julho/Agosto de 2009. Só recuperei a dois meses após a restauração da tabela de partição do meu HD.

“Sou espectador e diretor da minha própria vida, torço pelo sucesso e estou ao lado na eventual derrota. Não sou omisso, nem deixo a vida me conduzir, mas não me encaixo apenas no papel de narrador.”

“ Quem conhece essa parte de minha vida saberá o significado dessa imagem”

1 Reações:

Rafaela N. A. Monteiro Franco disse...

Se eu consequir ser metade do que você é já me sentirei satisfeita. Tenho tanto orgulho de você, que acho difícil que se torne um ídolo de barro. Na verdade prefiro crer que não existam ídolos, mas sim seres humanos admiráveis em varios escalas.

Acho também que teria medo de idolatrar, e mais ainda de ser um ídolo pois concerteza seria de barro.


Te amo Ricky
Beijos

Rafaela N Franco