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A gente sempre junta um grupinho e vai lá aproveitar essa proximidade
com uma das fragucias mais paulistanas: o pastel. É uma delícia barata e
disputada. Quando chega perto de meio-dia, as barracas cheirando a
fritura e aconchego ficam abarrotadas, completamente cercadas de pessoas
famintas por um pouco de carne com queijo e atenção. Mais afastado,
quase no outro quarteirão, há uma barraca que vende o melhor pastel e,
também, o mais barato.
Uma beleza só. Tem brinde da nossa escolha, há a facilidade de pagar
com cartão de débito, uma meia dúzia de mulheres — que se misturam entre
nipônicas e galegas das mais variadas idades — prontas para atender e
anotar os pedidos. Mas é muita gente. É muito pedido. Disputado.
Eu chego e tento fazer meu pedido. Todas correndo. Eu levanto o
braço, uma delas me nota, mas vira de costas para a cestinha onde os
pastéis prontos ficam descansando e secando o óleo. Espero um pouco, dou
uma zanzada. Já obtive o contato visual de uma delas. Nesse momento,
ela se torna a minha preferida, a menina que mais quero atenção naquele
preciso momento. Giro pela barraca e tento pedir de novo para ela. A
danada me dá uma nova olhada e balança a cabeça de um jeito estranho,
uma mistura de afirmação e desdém.
Mas eu sei que ela está pensando em mim.
Tento ser positivo. Ela disse que já vai me atender. A menina vai
para o outro lado da barraca e atende outra pessoa. Pega um chumaço de
papéis e anota vários sabores, cada um deles em um pedaço de papel que,
logo depois, servirá de embrulho para os pastéis quentinhos e sortidos.
Quando ela se aproxima, eu tento chamá-la com certa ternura e
discrição. Não quero parecer afobado, um maluco a berrar por salgados
fritos no meio da multidão. Quando tento, ainda com carinho, encostar
meus dedos em seu ombro para que a atenção dela se volte por completo na
minha direção, ela se abaixa para pegar algum refrigerante ou sacolinha
para outro cliente. Mais uma vez se afasta.
Lá, do outro lado da barraquinha de pastéis, ela sorri para alguém,
joga alguma conversinha fora e dá uma gargalhada apressada enquanto
enfia pastéis em sacolinhas de papel. Imagino que ela não queira falar
comigo, mas tento afastar esse tipo de pensamento e focar na minha
confiança de que eu posso, de que eu consigo.
Só que, com o passar dos minutos, percebo que ela evita trombar os
olhinhos dela com os meus e, mais ainda, ela se poupa de ter que ir até a
ponta da barraquinha em que eu me encontro. Ela me evita. E eu só
queria me apresentar e mostrar que eu sou, sim, um cara legal e que
posso muito bem ser digno de comer os pastéis dela.
Mas ela não me dá bola, cada vez se afasta mais.
Em certo momento, meus olhos focam o que estava na minha frente. Era
outra das atendentes da barraca. Ela me perguntou diretamente se eu já
havia feito o meu pedido.
Eu volto a olhar o canto oposto da barraca, a menina lá, atendendo
outras pessoas, sendo feliz e ágil com o trabalho dela. Ela nunca seria a
minha atendente naquela sexta-feira. Eu faço o meu pedido, recebo os
meus pastéis e volto para o QG, ainda na hora do almoço.
Eu, sozinho, e uma sacola cheia de pastéis e amargura.
A minha vida amorosa é uma barraca de pastel.
Jader Pires
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